Publicado em: www.redepsicoterapias.com.br
Que menina nunca quis usar o salto alto da mamãe? Ou nunca experimentou as maquiagens e se borrou toda? Essas brincadeiras podem até ser consideradas fofas e divertidas, pois fazem parte da infância das meninas que querem ser lindas mulheres quando crescerem. Porém, essas brincadeiras devem acontecer uma vez ou outra.
Quando uma menina colocar um salto e tentar se equilibrar em cima dele ou aparecer com o rosto todo borrado de maquiagem, achem graça e expliquem que, assim que ela crescer, ela poderá fazer tudo isso. Esse tipo de brincadeira faz parte do universo feminino, como rabiscar a cara das bonecas, pintar as unhas ou cortar os cabelos da boneca, por exemplo.
A brincadeira começa a tornar-se um problema quando a criança começa a agir feita adulta. Ou então, quando a criança começa a deixar os brinquedos dos quais sempre gostou, para brincar com atividades de adultos. E é nesse momento que a vaidade infantil começa a tornar-se um problema, uma vez que a criança não se sente mais à vontade com a sua própria idade.
Outro dia, deparei-me com uma reportagem um tanto curiosa, que dizia sobre as crianças mais estilosas do "mundo fashion". O que??? Deparei-me com pequenos adultinhos, vestindo roupas de marca, saltos, brincos grandes, maquiagem e até bolsinhas de grife para as pequenas! E os meninos não ficam de fora: camisa social, calça jeans, tênis de marcas famosas, bonés, cortes de cabelos bem moderninhos. As crianças de hoje estão cada vez mais precoces, são mais espertas e mais focadas. Talvez o excesso de estímulos e a facilidade do mercado tenha algo a ver com isso. Atrás desta facilidade, existe a globalização, que já atingiu este público para o consumo. E o mundo da moda tem-se inovado com muito glamour e sofisticação, para atrair crianças e seduzir principalmente os pais.
O desejo infantil de participar do universo adulto foi contemplado com artigos que antes o prejudicava e agora ganha novas fórmulas. Os desenhos da Disney e da Pixar foram lançados nas embalagens: o xampu e condicionador da Cinderela não ardem os olhos, o gel do Relâmpago McQueen não contém álcool, os esmaltes das Princesas não estragam as unhas como os da mamãe e a loção do Homem Aranha não é forte como a do papai. Enfim, todos os produtos da linha adulta receberam novos olhares com um único objetivo: encantar as crianças espelhando em seus ídolos e heróis.
De olho na mudança de comportamentos da criançada, os salões de beleza especializaram-se em desenhos de unhas e penteados infantis e muitos fast foods passaram a usar brinquedos e propagandas pra lá de criativas para atraí-los. Nem mesmo o salto alto e a maquiagem ficaram de lado; e fazem sucesso entre as meninas. Coisas que deveriam ser só de brincadeira, ganharam espaço entre os pequenos em função deles trocarem os brinquedos por espelhos e muitos adereços cada vez mais cedo.
Cuidar-se não é ruim, se atentar com a higiene é cuidar também de unhas e cabelos. Lógico que esse cuidado pode ser no salão, o que não pode é consistir em uma rotina e as crianças produzirem-se, vivendo vários papéis espelhados nos seus heróis dos desenhos animados, príncipes e princesas dos contos de fadas e até mesmo em seus pais. No entanto, muitos pais sentem-se envaidecidos quando os outros elogiam suas crianças, chamando-os de mocinha ou rapazinho, por usarem produtos que aparentemente deveriam ser de adultos.
As crianças deste início do século, principalmente as de classe média alta, preferem brincadeiras diferentes. Evitam-se sujar, têm receio de amassar a roupa e passam mais tempo na frente de um espelho do que realmente brincando. O divertimento ganhou outro foco, comentários direcionados a roupas e a uma exacerbada vaidade os colocam não como crianças, mas como miniaturas de adultos. Não é culpa delas: a sociedade globalizada valoriza o possuir, o ter é muito explícito e infelizmente elas também são alvos desses padrões. E, da mesma forma que os adultos espelham-se nas celebridades para se vestir, as crianças inspiram-se nas celebridades mirins como a Suri Cruise, Raphaela Justus e a turminha da telenovela "Carrossel".
Quando a criança começar a crescer, sem dúvida ela irá se preocupar mais com a vaidade; mas isso não precisa ser agora. Portanto, é importante transmitir bons valores para elas, explicar que usar roupas caras não faz ninguém melhor do que ninguém, bem como a vaidade infantil ou pessoas magras não são mais especiais que as outras etc. Lógico que a vaidade é muito importante. Afinal, todos nós temos um pouco de vaidade dentro da gente. Mas, assim como tudo na vida, a vaidade também precisa de limites.
Criança precisa ser criança. Hoje em dia, as brincadeiras e passeios que nós fazíamos antigamente foram deixadas de lado; a criança só quer saber de computador, celular e vídeo game. Faça-a ser criança, pois essa fase nunca mais voltará e nós sabemos que vida de adulto não é nada fácil, não é mesmo?!
*Ada Melo é psicóloga formada pela PUC Minas em 2010 e especialista MBA pela UNA em 2012. É colunista da Rede Psicoterapias, onde escreve às terças sobre infância e adolescência. Atua nas áreas clinica e organizacional pela abordagem psicanalítica. Leitura e cinema são seus maiores hobbies.
E-mail: ada_psique@yahoo.com.br
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Ada Melo - Psicóloga
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