26 de Julho: Dias dos Avós
O texto a seguir foi escrito pela especialista em Psicopedagogia Maria Irene Maluf para a Revista Psique, a qual compartilho aqui no blog para que nos traga boas reflexões.
Os conflitos gerados pelas diferenças de objetivos de vida entre as gerações nunca foram tão marcantes como nos dias atuais. Jovens avós, filhos e netos parecem de um lado nascidos na mesma década: possuem interesses culturais e sociais similares, assim como seu gosto por moda, passeios, música, viagem, esportes é bastante próximo. De outro lado, por seus objetivos essenciais de vida, são muito distintos, parecem por vezes nascidos em séculos diferentes!
A geração dos anos quarenta e cinquenta, hoje tornada avó, foi de crianças educadas dentro de princípios chamados tradicionais, nos quais a figura paterna era extremamente respeitada, os papéis eram bem definidos, a autoridade tendia ao autoritarismo, a obediência não era discutida, posta em dúvida e, provavelmente, sua educação pouco se distinguia daquela recebida por seus pais. Tratava-se, antes de imitar, de seguir modelos, sem desejo ou necessidade de arriscar mudanças.
A linguagem, as roupas, os gostos entre as pessoas da mesma geração eram similares, mas até por qualquer desses itens se podia saber quem era o pai e o filho, claramente. Houve o começo do uso da informática para fins comerciais, embora ainda não de forma massificada, e teve início a grande revolução comportamental, como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais. Esses acontecimentos mudaram gradativamente o pensamento, o comportamento das pessoas, a maneira de pensar e agir.
A geração dos anos setenta cresceu em uma fase de transformações marcantes, com muitas mudanças na família, na sociedade, no mundo: a ciência começou a sair em ritmo acelerado dos centros de pesquisas, das universidades para o mundo, para o cotidiano, alterando, definitivamente, os meios de comunicação e as relações entre as pessoas e as gerações. Evidentemente, os modelos educacionais vivenciados já não eram os mesmos, porque as necessidades do momento já não eram as mesmas. O tempo passou, a sociedade que tinha o objetivo de criar um cidadão “obediente” também foi vencida pelo anseio de educar pessoas responsáveis, autônomas em circunstâncias novas, sem padrões anteriores a seguir.
A liberdade de pensamento passou a ser uma exigência dos jovens, que começaram a se tornar senhores de sua vida, quebrando normas tradicionalmente aceitas. Experimentaram, na juventude, muitos caminhos, e amadureceram de modo diferente de seus familiares.
Ao se tornarem eles pais, não tendo um modelo educativo estabelecido e vivendo um momento extremamente dinâmico da sociedade, naturalmente, transformaram-se nos primeiros pais que têm – justificadamente – maior dificuldade em estabelecer limites entre eles e seus filhos: muitas vezes confundem os papéis, delegam responsabilidades, acabam por parecer irmãos e irmãs dos filhos, que acabam por se tornar órfãos de pais vivos. Com a desculpa ilusória de serem amigos dos filhos, deixam-nos sem pais...
Acontece que crianças são, por natureza, admiradoras de seus pais e verdadeiros “discípulos” naturais destes, e despertar uma amorosa admiração dos filhos se torna uma responsabilidade muito pesada para quem não está preparado para isso. E admiração se cria na observação, no dia a dia, de comportamentos coerentes e serenos, que transmitem segurança, geram ordem e disciplina, elementos, estes, sem os quais, obviamente, não se estruturam relações equilibradas, personalidades estruturadas, pessoas responsáveis ou autocontroladas.
Nunca se ouviu falar tanto como na atualidade em problemas disciplinares e a razão, provavelmente, está – na maioria dos casos –, justamente, na questão do autocontrole e da responsabilidade, que deixam de ser ensinados e cobrados das crianças, seja por excesso de zelo, de superproteção familiar ou por negligência, três terríveis violências contra a saúde mental infantil.
A disciplina verdadeira e duradoura é criada por uma identificação contínua e profunda com adultos, e é responsável pelo estabelecimento do autocontrole. Quando tal processo é supérfluo, as crianças desenvolvem um autocontrole frágil e, assim, sempre precisarão de alguém que as vigie, já que não sentirão a necessidade e nem a possibilidade de se controlar e agir certo em qualquer situação onde não sejam cuidadas.
O castigo entra nesse ponto, onde se exige a obediência e não o autocontrole: a punição acaba por tornar a criança menos cooperativa, o adulto perde a paciência, o autorrespeito e o respeito pela criança, e parte para a agressão física ou verbal, no desejo de reprimir o comportamento infantil.
O castigo, físico ou verbal, não leva em conta a necessidade real de se dar a oportunidade à criança de agir bem, repensar seus atos, palavras e comportamentos, de se sentir amada e respeitada ao longo de seu crescimento, e pior: não ensina autocontrole, não desenvolve o desejo de copiar comportamentos admirados por elas mesmas.
Compreendermos a relação entre as gerações. Nosso papel e responsabilidade social e familiar na criação de nossos filhos certamente farão, de todos nós, pais melhores, capazes de oferecer oportunidades reais de educar crianças e adultos equilibrados, autocontrolados, responsáveis e mais felizes em um mundo cada vez mais dinâmico.
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Abraços,
Ada Melo - Psicóloga
ada_psique@yahoo.com.br