Muitos pais, hoje em dia, têm tido dificuldade em impor castigos e limites aos filhos, parece estar havendo, uma inversão dos valores: os pais passaram a ter mais medo de perder o amor dos filhos do que os filhos, o dos pais. E como o pavor de perder o afeto e a admiração dos pais sempre foi o grande incentivo para as crianças aprenderem a se comportar de acordo com os padrões do seu meio cultural, hoje a maior parte dos adultos se vê sem meios para educar e agir com firmeza.
Em geral, são pais inseguros e ansiosos, esforçam-se para não fracassar em sua educação e têm pavor de ser julgados por parentes e amigos, excedendo na ânsia de acertar sempre. Assim como hoje se exige que as pessoas sejam bem-sucedidas, saudáveis e magras, é preciso ser um pai exemplar. Trata-se de um fenômeno bastante atual e que vem preocupando profissionais da área escolar, pedagógica e psicológica.
Pais superprotetores temem, sobretudo, o risco de sequestros, assaltos e acidentes e a oferta abundante e livre de álcool e drogas. Há, no entanto, um limite entre a preocupação aceitável e a excessiva, que pode fazer mais mal do que bem a uma criança ou adolescente.
Para tanto, esses pais usam de recursos tecnológicos, como o celular que permite monitorar as andanças da moçada, e da nova dinâmica familiar, mais aberta e propensa ao diálogo. Aparentemente, um filho sob a vigilância irrestrita dos pais está mais seguro. Mas há um risco na vida sem riscos, o que inclui atender a todos os pedidos da criança ou do jovem. Pais que adotam para si e para seus filhos esse tipo de estratégia ignoram uma peça-chave do desenvolvimento humano: a autonomia. É aquela capacidade de fazer escolhas e também de aceitar seus próprios limites e reconhecer que, não raro, as escolhas podem estar erradas.
Atualmente, a escola é o único espaço em que boa parte das crianças e adolescentes tem, de fato, de assumir responsabilidades. Ao passarem pelos portões escolares, deixam o posto de príncipe ou princesinha da família para se tornar um entre tantos outros alunos. E esse é um dos grandes pesadelos dos pais superprotetores, que buscam tratamento um individualizado também na escola, interferindo na rotina pedagógica, o que acaba irritando professores e diretores. Se o filho tira uma nota que os desaponta, vão direto à escola e exigem que ela seja mudada. Quando ele esquece um livro ou uma apostila em casa, correm para levá-lo à escola. Dessa forma, não permitem que ele sinta o constrangimento que serviria de alerta para que se lembrasse de tomar conta de sua vida.
Essa situação que pode parecer ser muito agradável para as crianças, não se sustenta a longo prazo, pois, essa criança que não enfrenta situações de frustração - aliás, frustrar é diferente de traumatizar - tornam-se despreparadas para lidar com esse tipo de dor psíquica e todos nós sabemos que a vida contém uma boa dose de frustrações.
Como efeito colateral da superproteção, começam-se notar um aumento no número de crianças ansiosas e inseguras, que pede atenção e aprovação para cada tarefa que realiza, tem medo de se machucar, evita fazer qualquer coisa sozinha e pede ajuda a todo momento. Até mesmo a ciência começa a voltar sua atenção para os efeitos da superproteção no cérebro e no comportamento de crianças e adolescentes. Parece exagero? Não é. Há casos como o do menino Ivan (nome fictício), de 9 anos, que foi alimentado à base de papinha até os 3 anos. De tanto ouvir seus pais dizerem que ele poderia engasgar com comidas sólidas, o garoto passou a recusar tudo o que não fosse apresentado a ele na forma de sopa ou mingau. Ivan pode ter superado completamente essa deficiência. Mas algo em sua habilidade motora e em sua confiança pode ter sido afetado.
Estudos tem revelado, o que até bem pouco tempo atrás não se sabia, que a falta de brincadeiras livres, sem a interferência de adultos, pode prejudicar o bom desenvolvimento das faculdades cognitivas. Há riscos também no excesso de preparação estudantil dos filhos. Um pai pode e deve estimular seu filho a ter atividades extracurriculares, mas o excesso não deixa de ser um ato de superproteção e, como tal, não faz bem. Aponta-se também que a falta de obrigações dentro de casa tem criado uma geração pouco preocupada com o próximo. E o pior: os pais estão relutantes como nunca em pedir ajuda doméstica aos filhos e não há nada de errado em distribuir tarefas: é bom para a autodisciplina e para ajudar a construir a autoconfiança. Pedir a um menino que lave um tênis sujo de barro ou que arrume a cama não deveria ser visto como punição. É simplesmente algo que ele deve fazer por ser parte de seu cotidiano.
Eliminar do desenvolvimento infantil todo desconforto, as decepções e até mesmo a brincadeira espontânea – e ainda por cima pressionar as crianças com a exigência de sucesso total – é um erro gravíssimo. Sem enfrentarem desafios próprios nem se confrontarem com limites, as crianças tornam-se adultos incapazes de superar as dificuldades da vida. As consequências da infância e adolescência superprotegidas já são mensuráveis: os jovens atualmente levam mais tempo para sair de casa, começar a trabalhar e formar uma família. Quando chegam ao mercado profissional, não conseguem lidar com as exigências reais. Frequentemente se sentem injustiçados e incompreendidos. E frustram-se com facilidade.
Em resumo, se você quiser ter um filho com possibilidade de ser feliz e realizado (nunca há garantias), proporcione a ele a liberdade possível em cada etapa de sua vida.
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