Angustiante e confuso, Cisne Negro tem sido considerado um dos filmes mais intensos da história. A personagem Nina que transita entre o frágil e o feroz, chega a tocar o espectador, trazendo á tona aquilo que de mais indomável nos habita, a força da sexualidade e da agressividade.
No enredo, Nina (Natalie Portman) é uma dançarina dedicada, tecnicamente perfeita, subestimada pelo dono da companhia de balé (Vincent Cassel) e controlada de perto pela mãe solitária (Barbara Hershey). Quando Beth (Winona Ryder) se aposenta, surge a oportunidade dela interpretar a Rainha Cisne em Lago dos Cisnes, um papel com o qual toda bailarina sonha. O problema está no Cisne Negro, ato da peça que é o mais difícil.
Segundo a Revista Psique (2011) Nina é dominada pelo controle da perfeição, tanto no seu interior quanto no exterior. Sua rigidez encontra-se desde a disposição de seus objetos, passando pelos cabelos até os movimentos impecáveis treinados até a exaustão. Do ponto de vista psicológico há muitas tentativas de compor um diagnóstico para a personagem principal do filme, embora talvez, seja um exercício quase impossível. “Muitos teóricos apontam para o Borderline como o diagnóstico que fala da clínica contemporânea, porém, uma investigação mais detalhada nos apontaria a comorbidade como um transtorno alimentar, além dos sintomas psicóticos e de auto-mutilação apresentados na trama”.
“A única pessoa em seu caminho é você mesma” diz Thomas Leroy que quer ver na doce Nina o aparecimento do Cisne Negro. Ela, então, tomada pela ideia de perfeição, travará uma dura batalha contra si mesma, encontrando no caminho a complicada e ambivalente mãe que projeta na filha seu sonho de bailarina não realizado, se envolvendo em uma trama de dominação e inconsciente disputa com Nina, despejando sua expectativa com relação a filha e os seus anseios de realização, e que ao mesmo tempo, pela veia da inveja, tenta impedir o crescimento e a transformação dessa menina em mulher. É preciso o Cisne Negro da agressividade e da sexualidade para construir o caminho da libertação para Nina, que aprende o gozo, toma posse do seu próprio corpo, em uma clara representação de sua ambivalência: cuidado e ataque.
Nina passeia em risco entre a visão da realidade interna e externa, e acaba perdendo-se em seus emaranhados. Para dar vazão ao Cisne Negro, Nina ataca seu Cisne Branco, projetando-o em Lilly, mas ao final, totalmente em identificação projetiva, é o seu corpo o que sangra e o que salta para a morte. Sorri atingindo a ansiada perfeição.
Quantas vezes durante o filme nos identificamos com a personagem Nina e nos vimos reprimidos pelos nossos próprios desejos encarnados no papel do Cisne Branco? Porém, o Cisne Negro existe em cada um nós, esperando um momento oportuno para eclodir com intensidade e nos trazer a libertação.